Pular para o conteúdo principal

Na São João del-Rei de hoje, cadê a lembrança de Joaquim José da Silva Xavier?


  
Em 2012, hoje, dia 21 de abril, completam-se 220 anos da morte de Tiradentes. Em São João del-Rei, este ano, a data será lembrada apenas com a realização de uma cavalgada - fato que é incompatível tanto com a importância do acontecimento histórico quanto com o espírito do povo são-joanense.

Herança dos tempos barrocos, o povo de São João del-Rei é festivo por natureza e procura em tudo motivos para celebrar e enriquecer o cotidiano local com concertos, exposições, palestras, retretas, missas, recitais, teatro, shows e eventos os mais diversos. Por que será que o sacrifício de Joaquim José da Silva Xavier, nos últimos anos, está caindo para o limbo na cidade onde os sinos falam? Certo é que a criação do Dia da Liberdade e da Cidadania - comemorado no dia do nascimento do herói inconfidente -, em princípio, em nada contraria a importância e a necessidade de se lembrar sua trágica execução, em forca, ocorrida em 21 de abril de 1792.

Outro motivo torna ainda mais necessária uma reflexão sobre a incômoda pergunta: o marco alusivo às homenagens de São João del-Rei ao Bicentenário da Inconfidência, erigido no Largo Tamandaré, em frente ao Museu Regional, hoje está incompleto. Fruto da ação do tempo e das intempéries, não ostenta mais o coroamento de sua composição - três esferas e uma pirâmide triangular de pedra sabão. Visto de longe ou de perto, é um monumento desolado na ponta de um jardim-estacionamento, desvalorizado diante da imponência da sede local do IPHAN, onde funciona o Museu Regional de São João del-Rei.

No conjunto da programação 200 Sonhos de Liberdade, a placa do marco foi descerrada em cerimônia nobre e solene, presidida pelas mais importantes autoridades nacionais à época: o presidente da República Itamar Franco, o arcebispo primaz Dom Lucas Moreira Neves (foto), o governador de Minas Gerais Eduardo Azeredo, o procurador geral da República Aristides Junqueira e muitos outros parlamentares e figuras de destaque no mundo político, como o atual senador Aécio Neves e sua avó, sempre muito querida em São João del-Rei, Dona Risoleta.

Desenvolvido em 1992, o projeto 200 Sonhos de Liberdade promoveu, por mais de quarenta dias ininterruptos, em São João del-Rei, uma série de atividades diversas - de palestras a exposições de arte popular e de peças históricas, de concertos de música erudita a toques de sinos, de conferências científico-acadêmicas a exibição de filmes relacionados ao tema, de missas barrocas a shows. Tudo ao estilo do grande herói.

Sem dúvida foi a mais vasta, mais intensa e mais longa ação comemorativa do Bicentenário da Inconfidência Mineira realizada no Brasil. Que outras iguais se desenvolvam...

No clipe abaixo, a homenagem 2012 de Tencões & terentenas:
Valeu, Joaquim José!
Libertas quae sera tamen ...

Comentários

  1. "desvalorizado diante da imponência da sede local do SPHAN"
    Hoje, o local abriga o Museu Regional de São João del-Rei, vinculado ao Instituto Brasileiro de Museus - Ibram/ Ministério da Cultura.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Paulo, obrigado pela correção, já feita no texto. São contribuições como esta que ajudam a aperfeiçoar o almanaque eletrônico Tencões & terentenas. Um abraço.

      Excluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Debaixo de São João del-Rei, existe uma São João del-Rei subterrânea que ninguém conhece.

Debaixo de São João del-Rei existe uma outra São João del-Rei. Subterrânea, de pedra, cheia de ruas, travessas e becos, abertos por escravos no subsolo são-joanense no século XVIII, ao mesmo tempo em que construíam as igrejas de ouro e as pontes de pedra. A esta cidade ainda ora oculta se chega por 20 betas de grande profundidade, cavadas na rocha terra adentro há certos 300 anos.  Elas se comunicam por meio de longas, estreitas e escuras galerias - veias  e umbigo do ventre mineral de onde se extraíu, durante dois séculos, o metal dourado que valia mais do que o sol. Não se tem notícia de outra cidade de Minas que tenha igual patrimônio debaixo de seu visível patrimônio. Por isto, quando estas betas tiverem sido limpas e tratadas como um bem histórico, darão a São João del-Rei um atrativo turístico que será único, no Brasil e no mundo. Atualmente, uma beta, nas imediações do centro histórico, já pode ser visitada e percorrida. Faltam outras 19, já mapeadas, dependendo da sensi

Em São João del-Rei não se duvida: há 250 anos, Tiradentes bem andou pela Rua da Cachaça...

As ruas do centro histórico de São João del-Rei são tão antigas que muitas delas são citadas em documentos datados das primeiras décadas do século XVIII. Salvo poucas exceções, mantiveram seu traçado original, o que permite compreender como era o centro urbano são-joanense logo que o Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar do Rio das Mortes tornou-se Vila de São João del-Rei. O Largo do Rosário, por exemplo, atual Praça Embaixador Gastão da Cunha, surgiu antes mesmo de 1719, pois naquele ano foi benta a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, nele situada e que originalmente lhe deu nome. Também neste ano já existia o Largo da Câmara, hoje, Praça Francisco Neves, conforme registro da compra de imóveis naquele local, para abrigar a sede da Câmara de São João del-Rei. A Rua Resende Costa, que liga o Largo do Carmo ao Largo da Cruz, antigamente chamava-se Rua São Miguel e, em 1727, tinha lojas legalizadas, funcionando com autorização fornecida pelo Senado da Câmara daquela Vila colonial.  Por

Padre José Maria Xavier, nascido em São João del-Rei, tinha na testa a estrela da música barroca oitocentista

 Certamente, há quase duzentos anos , ninguém ouviu quando um coro de anjos cantou sobre São João del-Rei. Anunciava que, no dia 23 de agosto de 1819, numa esquina da Rua Santo Antônio, nasceria uma criança mulata, trazendo nas linhas das mãos um destino brilhante: ser um dos grandes - senão o maior - músico colonial mineiro do século XIX . Pouco mais de um mês de nascido, no dia 27 de setembro, (consagrado a São Cosme e São Damião) em cerimônia na Matriz do Pilar, o infante foi batizado com o nome  José Maria Xavier . Ainda na infância, o menino mostrou gosto e vocação para música. Primeiro nos estudos de solfejo, com seu tio, Francisco de Paula Miranda, e, em seguida dominando o violino e o clarinete. Da infância para a adolescência, da música para o estudo das linguas, José Maria aprendeu Latim e Francês, complementando os estudos com História, Geografia e Filosofia. Tão consistente era seu conhecimento que necessitou de apenas um ano para cursar Teologia em Mariana . Assim, j