Daqui a alguns dias, 23 de abril, será dia de São Jorge - o santo guerreiro que, enquanto houver cavalo, não anda a pé.
Muito popular nas Minas coloniais, o culto a São Jorge era patrocinado pela Câmara das vilas, mostrando como especialmente naquela época eram firmes os elos que uniam poder e religião. Em São João del-Rei, por exemplo, São Jorge era um símbolo estatal tão importante que sua imagem não ficava na igreja, mas na Casa da Câmara.
Entretanto, conta a história que, pelos idos de 1842, o prestígio do santo que se projetava em sombra na lua cheia, lutando contra o dragão, andava meio abalado em São João del-Rei. Tanto que há 160 anos, no dia 8 de abril, o vereador Francisco Joaquim Araújo Pereira da Silva propôs à Câmara que a imagem de São Jorge e suas vestes fossem entregues ao vigário para "ficarem em um lugar com mais decência". Mas aí começou uma contenda que durou quase cinco décadas.
É que outro vereador, padre Bernardino, discordou, alegando que a imagem barroca estava em boa guarda na Casa da Câmara e, para aumentar sua imponência e dignidade, poderia até ganhar um rebuscado dossel de damasco. A proposta foi prontamente aceita por todos - quem não teme a ira do guerreiro? Com isso, São Jorge teve mantido seu "cargo" público por mais 45 anos, até que em 1887 o vereador João Rodrigues de Melo pediu a trasladação da imagem para a Matriz do Pilar pelo mesmo motivo: a sala onde ficava não tinha "a decência necessária que lhe é devida".
Da Casa da Câmara, a bela imagem de São Jorge, em tamanho natural e pernas arqueadas para montar cavalo vivo, foi para a Matriz. Hoje está no Museu de Arte Sacra. Mesmo sem cavalo, ali São Jorge não anda a pé...
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Fonte: CINTRA, Sebastião de Oliveira. Efemérides de São João del-Rei. 2a edição revista e aumentada. Volume 1. Imprensa Oficial. Belo Horizonte. 1982.
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